domingo, 20 de dezembro de 2009

Maria Mãe de Deus e o Natal*






Nas vésperas do Natal, me surpreendi com a clareza e a verdade com que o Martinho Lutero, o reformador, fala da Mãe de Deus. “Deus não recebeu sua divindade de Maria; todavia, não segue que seja consequentemente errado afirmar que Deus foi carregado por Maria, que Deus é filho de Maria, e que Maria é a Mãe de Deus. Ela é a Mãe verdadeira de Deus, a portadora de Deus.
Maria amamentou o próprio Deus; Ele foi embalado para dormir por ela, foi alimentado por ela, etc. Para o Deus e para o Homem, uma só pessoa, um só filho, um só Jesus, e não dois Cristos. Mesmo que tenha duas naturezas.” (Martinho Lutero, “Nos Conselhos e na Igreja”, em 1539)

“Não pode haver nenhuma dúvida que a Virgem Maria está no céu. Como isso aconteceu, nós não sabemos. E já que o Espírito Santo não nos revelou nada sobre isso, não podemos fazer disso um artigo de fé. É suficiente sabermos que ela vive em Cristo.”
Ao colocar Maria como a portadora de Deus, Martinho Lutero eleva Maria como pedra preciosa, dizendo: “Maria é a mulher mais elevada e a pedra preciosa mais nobre no Cristianismo depois de Cristo. Ela é a nobreza, a sabedoria e a santidade personificadas. Nós não poderemos jamais honrá-la o bastante. Contudo, a honra e os louvores devem ser dados de tal forma que não ferem a Cristo nem às Escrituras.” (Martinho Lutero, Sermão na Festa da Visitação em 1537.)

Honrar o filho é honrar a mãe por Ele: “Devemos honrar Maria como ela mesma desejou e expressou no Magnificat. Louvou a Deus por suas obras. Como, então, podemos nós exaltá-la? A honra verdadeira de Maria é a honra a Deus, louvor à graça de Deus. Maria não é nada para si mesma, mas para a causa de Cristo. Maria não deseja com isso que nós a contemplemos, mas, através dela, Deus.” (Martinho Lutero, Explicação do Magnificat, em 1521.)

Em clima de Natal em 1522, pronunciava estas palavras: “É a consolação e a bondade superabundante de Deus, o homem pode exultar por tal tesouro: Maria é sua verdadeira mãe, Jesus é seu irmão, Deus é seu Pai.” (Martinho Lutero, Sermão de Natal de 1522.)

“Maria é a Mãe de Jesus e a Mãe de todos nós, embora fosse só Cristo quem repousou no colo dela… Se ele é nosso, deveríamos estar na situação dele; lá onde ele está, nós também devemos estar e tudo aquilo que ele tem deveria ser nosso. Portanto, a mãe dele também é nossa mãe..” (Martinho Lutero, Sermão de Natal de 1529.)

“Cristo era o único filho de Maria. Das entranhas de Maria, nenhuma criança além dEle. Os ‘irmãos’ significam realmente ‘primos’ aqui: a Sagrada Escritura e os judeus sempre chamaram os primos de ‘irmãos’.” (Martinho Lutero, Sermões sobre João 1-4, 1534-39)

Afirma Lutero: ‘Ela nos ensina como devemos amar e louvar a Deus, com alma despojada e de modo verdadeiramente conveniente, sem procurar nele o nosso interesse. Ora, ama e louva a Deus com o coração simples e como convém a quem o louva simplesmente porque é bom. Aqueles que amam com coração impuro e corrompido, aqueles que, de maneira semelhante à dos exploradores, procuram em Deus o seu interesse, não amam e não louvam a sua pura bondade, mas pensam em Si mesmos e só consideram quanto Deus é bom para eles mesmos.
A religiosidade verdadeira, portanto, é louvor a Deus incondicionado e desinteressado.’ ‘Maria – escreve a seguir Lutero – não se orgulha da sua dignidade nem da sua indignidade, mas unicamente da consideração divina, que é tão superabundante de bondade e de graça que Deus olhou para uma serva assim tão insignificante e quis considerá-la com tanta magnificência e tanta honra.

Ela não exaltou nem a virgindade nem a humildade, mas unicamente o olhar divino repleto de graça. (p.561 do Livro de Martinho Lutero,‘Maria Mãe dos Homens’).

Ao observar aquilo que se realiza nela, nós podemos contemplar o estilo habitua de Deus. Enquanto os homens são atraídos pelas coisas grandes, Deus olha para baixo, para tirar de um nada, daquilo que é ínfimo, desprezado, mísero e morto, algo de precioso, digno de honra, feliz e vivo. (p.547 do Livro de Martinho Lutero,‘Maria Mãe dos Homens’).

A Mãe de Jesus, portanto, aparece em Lutero como o puro reflexo do olhar divino. Ela não atrai a nossa atenção sobre si, mas leva-nos a olhar para Deus. Maria não quer ser um ídolo; não é Ela que faz, é Deus que faz todas as coisas. Deve ser invocada para que Deus, por meio da vontade dela, faça aquilo que pedimos. (pp.574-575 do Livro de Martinho Lutero ‘Maria Mãe dos Homens).

Que a Mãe de Deus, nos ajude a celebrar, com renovado ardor, esse Natal e nos faça, cada vez mais, verdadeiros discípulos de Mestre Jesus de Nazaré.


*Dom Anuar Battisti é Arcebispo de Maringá

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

VIGIAI: CRISTO VIRÁ DE NOVO



Os justos e os profetas o desejavam, pensando que se manifestaria em seu tempo; do mesmo modo, cada um dos fieis de hoje deseja recebê-lo em sua época, pois ele não disse claramente o dia em que viria. E isto, sobretudo, para ninguém pensar que está submetido a uma determinação e hora, ele que domina os números e os tempos.

Como poderia estar oculto aquele que descreveu os sinais de sua vinda, o que ele próprio estabeleceu? Diante dos discípulos para que não interrogassem sobre a sua vinda Jesus diz: “Aquela hora ninguém a conhece, nem anjos nem o Filho. Não vos compete saber o tempo e o momento” (Mc. 13,32-33).

O Senhor ocultou-nos isso para que ficássemos vigilantes e cada um de nós pudesse pensar que esse acontecimento se daria durante a nossa vida. Ele disse que viria, mas não declarou o momento e por isso as gerações e todos os séculos o esperam ardentemente. Estar vigilantes é a atitude de quem se prepara para celebrar a sua primeira vinda e o dia em que Ele virá definitivamente para julgar a cada ser humano.

O Apóstolo Paulo alerta: “Diariamente estou correndo perigo de morte, tão certo, irmãos, quanto vós sois a minha glória em Jesus Cristo Nosso Senhor....Não se deixem iludir: as más companhias corrompem os bons costumes. Voltai a viver a vida séria e correta; e não pequem. Pois alguns de vós ignoram tudo a respeito de Deus. Digo isso para que sintais vergonha”(1Cor.!5,34).

Viver como se Deus não existisse, passar pela vida como se tudo terminasse aqui constitui a maior vergonha do ser humano. Permanecer vigilantes, significa colocar Deus em primeiro lugar em tudo, pois tudo passa, tudo é vaidade das vaidades. Neste clima natalino onde tudo é luz, tudo é bonito, tudo é colorido, a atitude do cristão passa pelo viver como se tudo isso fosse um sonho. Nós não buscamos a glória presente, mas a futura, como também ensina o Apóstolo Paulo: “Já fomos salvos, mas na esperança.

Ora, o objeto da esperança não é aquilo que se vê; como pode alguém esperar o que já vê” (Rm 8, 24-25). “Portanto, enquanto temos tempo, façamos o bem a todos, principalmente aos irmãos na fé. Não desanimemos de fazer o bem, pois no tempo devido haveremos de colher, sem desânimo”(Gl 6,10.9).

Como é bom ser bom, como é bom viver vigilantes, ancorados na Palavra de Deus, rocha firme, inabalável, luz e vida para todo aquele que ouve, crê e coloca em prática. Ninguém vive para si mesmo, “se vivemos é para o Senhor que vivemos, se morremos é para o Senhor que morremos” diz o pregador das nações. Por isso vale a pena viver esse tempo de advento, espera e expectativa que ultrapassa qualquer medo do futuro e garante o valor infinito do momento presente bem vivido. O Senhor veio e virá.

Vigilantes no amor paciente, benigno,, no amor que não é invejoso, que não se ensoberbece, que não se encoleriza, que não suspeita mal; tudo ama, tudo crê, tudo espera, tudo suporta”(cf. 1Cor 13,4-5), teremos a certeza de merecer a herança de uma eternidade feliz. Vigiai, não cochile, não deixe para amanhã, o Senhor veio, vem e virá!


*Dom Anuar Battisti é arcebispo de Maringá-PR